YS VI: The Ark of Napishtim

Ys VI: The Ark of Napishtim é para quem já passou ou está próximo dos 30 e acha que ¿não se fazem mais jogos como antigamente¿. Trata-se do último exemplar de uma série que começou sua tradição ainda no MSX, em 1987, e que passou por praticamente todas as principais plataformas desde então, quase sempre em lançamentos restritos ao mercado asiático.

Diferente de seus contemporâneos Final Fantasy e Dragon Quest, Ys (pronuncia-se ¿Is¿) sempre foi um RPG mais preocupado com a ação que com estatísticas e histórias mirabolantes. É um jogo básico sobre matar monstros, explorar dungeons e salvar o mundo no final. Nada mais.

Adol chega aos EUA

A história é um clichê básicos dos RPGs japoneses. Adol, o herói de cabelos vermelhos de todos os jogos da série, agora foi parar em uma ilha depois que o barco em que viajava foi sugado por um redemoinho chamado de ¿O Grande Vortex¿. Resgatado por duas adoráveis elfas, ele tem como missão recuperar fragmentos de um espelho mágico que foram parar nos confins de perigosos ¿dungeons¿.

A história é um dos pontos fracos do jogo e serve apenas de pano de fundo para a aventura, sem jamais envolver o jogador. Um detalhe interessante nesta adaptação americana feita pela Konami é que os interlúdios cinematográficos que narram a história foram adequados ao gosto ocidental e passaram de desenhos animados no estilo anime para CGs genéricos. É uma mudança polêmica, mas felizmente a Konami percebeu isso a tempo e colocou códigos opcionais no jogo que permitem restaurar o desenho original japonês. A figura do nosso herói Adol também sofreu mudança parecida, sendo um pouco espichado e não tão cabeçudo como na versão japonesa. Mais uma vez, é possível entrar com códigos que voltam o desenho para o original.

A dublagem em inglês é outro item que deixa a desejar. É pura canastrice, principalmente nas vozes dos personagens jovens, que falam com os trejeitos dos adolescentes americanos mais irritantes. Mas até neste item, há opção de voltar ao original japonês e tornar os diálogos incompreensíveis, mas mais simpáticos.

Preservado no formol

A jogabilidade de The Ark of Napishtim pode ser definida em uma única palavra: nostalgia. O jogo ignora toda evolução da ciência gamística feita nas últimas décadas e oferece uma aventura básica como nos jogos de época do MSX ou NES, o que pode parecer perfeito para os nostálgicos, ou pouco para quem espera um jogo de RPG moderno, cheio de estatísticas e missões paralelas.

Temos total controle de Adol no combate, e as batalhas acontecem em tempo real. No primeiro contato com o inimigo teremos uma espada comum e escudo de madeira, mas logo conquistamos três espadas mágicas com propriedades de fogo, vento e raios que desencadeiam combos de magia bem simples. Nosso herói evolui em níveis à medida que derrota os monstros, como em qualquer RPG. Mas uma característica original e muito bacana é que as espadas também podem subir de nível. Para isso, coletamos pedras conhecidas como ¿Emel¿ -- que alguns monstros deixam cair --, e levamos para um especialista na cidade que poderá usá-las para dar ¿upgrades¿ nas lâminas, tornando-as mais afiadas e com poderes mágicos mais fortes.

Itens encontrados ao longo da aventura variam entre as tradicionais ervas de cura, poções e amuletos para alterar atributos, como mais força, mais defesa, proteção a envenenamento etc.

A exploração dos dungeons e as batalhas, principalmente com os chefes de fase, são as partes mais gratificantes. Os chefes são sempre gigantescos e proporcionam boas batalhas estratégicas, daquelas onde temos que encontrar seu ponto fraco para derrubá-lo. Já os dungeons são como os labirintos de um Zelda sem os puzzles, mas igualmente cheios de segredos interessantes escondidos.

E para fazer justiça às suas raízes arcaicas, The Ark of Napishtim não pega leve no nível do desafio. Não é exatamente um RPG difícil ou frustrante, mas também não é um mar de rosas. Em muitos momentos o jogo oferece desafios que parecem impossíveis, mas que na verdade obrigam o jogador a descobrir o ponto fraco da criatura, ou então ir atrás de itens que alterem seus atributos e tornem a batalha mais justa. Em último caso, é apenas um desafio de ir a áreas mais fáceis e passar de nível também.

O jogo é razoavelmente linear. Existem algumas missões paralelas, mas são poucas e não evitam a noção de uma aventura bastante limitada e curta. São poucas bifurcações na aventura, a grande maioria dos personagens não tem nada de interessante para dizer, ou missões paralelas para te passar, e o mundo do jogo é pequeno para os padrões modernos. Em suma, mais conteúdo lhe faria muito bem.

Enquanto dura, entretanto, The Ark of Napishtim é uma experiência irresistível para os jogadores nostálgicos. É um jogo incrivelmente despretensioso, mas igualmente cheio de charme, como seus gráficos -- tridimensionais, mas lembrando desenhos 2D, traduzem bem esta proposta de pouca ambição e muita alma. É uma questão de ver e se encantar, ou torcer o nariz.

O Veredicto: Ys VI: The Ark of Napishtim pode ser simples e um tanto fora de moda, mas retém com muita competência a diversão e magia dos RPGs de ação do passado. É um jogo de nicho. Quem espera algo moderno e sofisticado vai se decepcionar, mas os jogadores que buscam uma aventura clássica, ¿old-school¿, estarão plenamente satisfeitos.

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